“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades” - O Desafio de Empreender
Luiz Vaz de Camões viveu durante a idade moderna em Lisboa/Portugal e é considerado um dos maiores escritores da nossa literatura ocidental. Ele escreveu esse belo soneto, no qual mergulhei para trazer um pouco de poesia às nossas reflexões:
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
muda-se o ser, muda-se a confiança;
todo mundo é composto de mudança,
tomando sempre novas qualidades.
(...)
Esse poema de Camões trouxe um sentimento de tranquilidade com relação ao que tenho proposto nos últimos meses diante dos novos cenários que todos têm vivenciado mundialmente. E complementando os artigos anteriores, nos quais tentei trazer algumas reflexões acerca desses movimentos repentinos, segui uma linha de raciocínio que apliquei em cada texto escrito. Dei essa mesma direção para as minhas rotinas, ou seja, busquei utilizar um planejamento passo a passo, primeiro compreender como chegamos aos acontecimentos atuais, segundo tentei me encontrar e entender qual era a minha postura diante dos fatos e como me comportaria na luta diária pela sobrevivência. O que não quer dizer que não existam percalços na realização das tarefas e busca pelos objetivos construídos com essa base.
Então, se você tiver curiosidade de ler os últimos três artigos perceberá diálogo entre eles, e até mesmo nesse aqui. Tem sido uma necessidade individual narrar de maneira coerente e contextualizada como temos alçado voos além do pânico.
E nesse processo de mudança de tempos, cenários, novas necessidades, descobrimos que para inovar no nosso negócio poderíamos ir além das tecnologias. Claro, que optamos também por abraçar ainda mais o que já havíamos iniciado ainda com a elaboração e administração do facebook da nossa primeira empresa 5 anos atrás, descomprimindo a nossa comunicação via digital. Mas, ampliar os canais e ressignificar a maneira de comunicar com nosso público foi necessário.
Portanto, além de melhorar através das mídias sociais e das lojas virtuais, o que já tínhamos como missão: que é o propósito de fazer parte da vida das pessoas, decidimos criar uma comunicação que gerasse mais proximidade com os clientes. Melhoramos a maneira de nos relacionar com quem alimenta a nossa missão diariamente. A inovação a primeira vista não parece grande coisa, visto que trabalhamos apenas a linguagem que utilizávamos com esse consumidor, mas os resultados demonstram a cada dia que acompanhar cada processo da empresa e almejar engajamento, torna-nos cada vez mais especialistas em empreender.
Algumas pessoas quando pensam em inovação, atrelam logo ao conceito de tecnologia e se esquecem de pensar e analisar no campo das ideias, as informações e dados relevantes que podem ajudar na tomada de decisões importantes. De ouvir o cliente, antes, durante e depois de um serviço prestado. Constatamos rotineiramente que o nosso desempenho pode ser melhorado. Precisamos apenas de dados, metodologia de trabalho, rever o modelo do nosso negócio sempre que possível, sem que exista uma pandemia para nos exigir isso.
Se você já fez esse exercício e se sentiu inerte, calma, não quer dizer que se paramos no tempo, acabou, fechamos as portas e entregamos as chaves. Perceber a estagnação é o primeiro ponto, e é muito importante, porque muitas vezes nos perdemos aí. Em achar que estamos trilhando caminhos, quando na verdade apenas caminhamos na esteira parada admirando a mesma paisagem há tempos.
Geralmente, quando se chega a esse ponto de análise, reparamos que nos faltam informações relevantes para tomar decisões importantes. A informação fragmentada ou mal gerida produz resultados aquém das possibilidades possíveis de serem ampliadas quando conhecemos todos os gargalos e demandas do negócio. E penso que isso é um poço sem fundo. Tem negócio que sempre vai gerar gargalos, o que pode ser bom em vista de que, geralmente, nos impulsiona a resolvê-los. E se forem demandas, prevemos crescimento ou reposicionamento. Porém, isso também depende da postura, do olhar e engajamento do empreendedor.
Com o passar dos anos no comércio e a busca constante por conhecimento através de programas de acompanhamento com consultorias, cursos e projetos mais amplos relacionados à gestão profunda do negócio, aplicamos conceitos e práticas que colaboraram para novas soluções empresariais. E percebemos que essa especialização deve ser constante, nunca somos suficientes em conhecimento de mercado, de pessoal, de gestão, enfim, existe uma necessidade cíclica de se inteirar e de melhorar, o mercado borbulha em novidades.
E nesses tempos de mudança, reclamar não muda nada e o “mundo é composto de mudança” como diria Camões. Então, carecemos de forças e também de capacitação para conectar ou manter conexão com o público do nosso negócio. E num cenário desconhecido, isso é ainda mais necessário.
Mas, e aí? Faltam forças? Qual é o sentimento que devemos trabalhar para que consigamos manter a criatividade ou começar a motivar a nossa capacidade inventiva? O Mestre em empreendedorismo pela fundação Dom Cabral, Gilmar Chagas, que também é administrador, empreendedor e consultor de empresas entende esse momento como uma fase que oferece mais tempo que pode ser utilizado com capacitações que promovam em nós os sentimentos necessários para a retomada dos nossos caminhos. “As pessoas têm um tempo maior e melhor pra ficar em casa e que podem ocupar a mente com problemas e coisas improdutivas, talvez seja um momento de maior reflexão, conhecimento e capacitação”, orienta o Gilmar que indica as várias instituições que oferecem agora cursos gratuitos como a Fundação Dom Cabral, O Sebrae e a Saint Paul Escola de Negócios. De acordo com ele, é interessante revisitar o formato dos nossos negócios para pensar numa reformulação ou quem sabe inovar nas pequenas coisas.
Nesse sentido, fazer a retrospectiva desde o início ou talvez, desde quando você não sabia o que queria, por exemplo, seja primordial para percorrer novamente esse caminho e quem sabe ousar a ressignificar os nossos sentimentos diante das mazelas enfrentadas até o ponto em que você se encontra.
E aí pensando nisso, cheguei à conclusão de que nós buscamos empreender desde que nascemos. Lá vem uma daquelas analogias malucas, mas pense comigo: saímos da barriga da mãe em busca de possibilidade de vida, além de resolver problemas buscamos ser criativos. Úteros não carregam manuais de como um bebê deve se comportar para pedir comida ou expressar frio, o bebê não nasce com conhecimentos universais sobre o que é sono, etc. Porém possui e exerce comportamentos de atitude.
E seria legal se pelo menos as mães de primeira viagem entendessem logo de cara cada chorinho da cria de maneira específica e não genérica como apresenta a literatura disponível sobre o tema. Entretanto, com o tempo a gente pega o jeito e vai associando, mas depende de tempo, entendimento, esforço descomunal para resolver logo os chorinhos, associação de dados (tipo: esse choro é isso, essas perninhas balançando significam aquilo). Os pais colhem os dados dos bebês para lidar com eles assertivamente. A gente busca ficar íntimo, prever, conhecer, criar vínculo.
E os bebês demandam, inventam, reagem. E não é que é assim também com aquilo que dedicamos desenvolver como trabalho e carreira?
Tenho filhos e sim, teria gostado muito que pelo menos o primeiro viesse com tecla SAP e manualzinho básico. Enfim, isso não existe, então vamos voltar aqui.
A criança chora, a criança empreende para os pais entenderem que ela precisa trocar a fralda, que ela está com fome, está com frio, que ela está se sentindo solta no universo. A criança desembola o choro porque é a única maneira que ela tem de sobreviver, ela tem atitude de realizar mesmo sem saber expressar na nossa língua, por isso, cria uma linguagem que faça com que os pais percebam sua necessidade. Ou seja, nascemos buscando sobrevivência, criamos meios, comunicação para continuarmos vivos, para crescermos, balbuciamos até conseguir expressar a primeira palavra, rolamos e engatinhamos até dar os primeiros passos.
Paulo Fochi (2015) é pedagogo, mestre em Educação na linha de Estudos sobre infâncias (UFRGS) e doutorando em educação na linha de Didática e Formação de professores na USP e afirma em seu livro Afinal, o que os bebês fazem no berçário?: “Os meios que os bebês utilizam para resolver ou realizar algo, avaliando e adequando, conforme percebem a necessidade; os ajustes corporais que adotam para encontrar maior segurança e equilíbrio; o tempo que empreendem, geralmente, estão muito mais concentrados do que se possa imaginar; a permanência e o abandono em uma determinada situação; o conjunto de emoções que experimentam e como lidam com eles; os conceitos que formulam e como os utilizam na experiências futuras; a confiança que adquirem para avançar em novas conquistas (...)”, ou seja, eles empreendem e muito.
E depois que o li, compreendi que nem é uma analogia tão maluca assim. E por que eu leria esse livro? Para embasar com firmeza que precisamos ser mais abertos às situações, às mudanças. Que um HD vazio logo se enche de arquivos, imagens ou vídeos que fazem algum sentido de estarem ali, porque foram escolhidos por uma tomada de decisão.
Ou seja, os bebês são criativos para sobreviverem. Quando uma empresa nasce ela demanda questões que precisam ser resolvidas. Trata-se de um mecanismo quase que automático e de múltiplas engrenagens que dependem uma da outra. E quanto mais nos dedicamos a entender o choro do nosso negócio, do nosso cliente, mais forte, resolvido e cheio de atitude ele cresce. E quando os propósitos vão surgindo, a ideia é que enquanto empreendedores busquemos sobreviver, consigamos criar condições para fazer acontecer até mesmo desistir de determinadas questões, se for o caso. E se isso não acontece, precisamos avaliar o nosso nível de sensibilidade diante do que nos rodeia. Se o bebê não chora, ele não mama. Se os pais não se preocupam com a rotina da criança, ela morre de fome, de frio e de tantos outros fatores.
Então é isso, os tempos mudam e as vontades também, as demandas surgem e, talvez, o que você precisa seja apenas trocar a cor da fachada do seu negócio, organizar o layout, mudar coisas de lugar, trocar a cor das lâmpadas, dar um grau no conhecimento da sua equipe, na aparência, avaliar desempenho de colaborador, avaliar parcerias, fornecedores, cogitar sair em busca de outras possibilidades para o seu negócio, inclusive, o mais importante, escutar e perceber de maneira mais profunda o seu cliente.
Mesmo que tudo virtualmente.
Melhorar o relacionamento com seu público, mudar o tipo de abordagem ou até mesmo o tipo de comunicação utilizada. Colher números, dados e tudo o que enriquece a informação para que tenha segurança de todos os processos do seu empreendimento. Testar possibilidades e entender os resultados desses testes.
E é como Diz Gilmar Chagas, “Se o empreendedor nesse momento se fechar e ficar dentro do seu casulo, ele não vai conseguir visualizar a saída. A busca das soluções funciona”. O consultor afirma ainda que a união faz a força e conta que um barbeiro de Uberlândia, cidade em que reside atualmente, “que estava fora dos serviços essenciais permitidos pelos decretos, buscou nas mídias sociais o contato de todos os barbeiros que estavam nas redes e conseguiu formar um grupo de quase 2.100 profissionais dessa área. Ele categorizou e viu que o que tinha em comum com muitos era o fato de estar aberto para o novo cenário que tem se formado. Então, ele reuniu mais de 410 profissionais que falavam a mesma linguagem, redigiram um documento, propuseram a reabertura cumprindo todos os cuidados e a prefeitura acatou. Então, é possível buscar soluções e cooperação”.
Gilmar lembra algo muito importante e que serve como pilar para os empreendedores, “Empreender é um processo coletivo, humano e social. O empreendedor quando pensa em algo ele já está no coletivo, porque ele está resolvendo um problema. O empreendedor também pensa em ajudar, e dentro desta dinâmica ele consegue se refazer”.
Portanto, inovar suscita pequenas coisas, mas se você quiser algo grande, estruture-se para chegar ao ponto que deseja e faça. E lembre-se, esteja aberto ao que os movimentos do tempo lhe traz.
Referências bibliográficas:
CAMÕES, Luís Vaz de. Sonetos de Camões. São Paulo: Ateliê Editorial, 2011.
FOCHI, P. Afinal, o que os bebês fazem no berçário? Comunicação, autonomia e saber-fazer de bebês em um contexto de vida coletiva. Porto Alegre: Penso, 2015.
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