O autoconhecimento como propulsor para a mudança de carreira
Quando me sentei em frente ao computador para começar esse texto fiquei sem saber ao certo por onde começar. Então, respirei de forma consciente, silenciei a mente por alguns instantes e decidi contar a história até aqui como ela de fato aconteceu. Mas já adianto, essa história não é nada convencional ou minimamente previsível, assim como as primeiras frases aqui escritas.
Meu processo de transição de carreira não veio à tona pela razão ou por pragmatismo, não foi decidida em função de números, não foi por ambição ou qualquer coisa do tipo, não foi façanha ou artimanha do meu ego querendo me iludir, foi justamente o contrário. Essa história pode parecer estranha e nada usual para alguns {e de fato, essa impressão é legítima}. Por isso, peço que abram o coração antes de prosseguir e me permitam também divagar um pouco {em uma boa dose} enquanto eu a conto. Você poderá até se identificar, em certa medida, com o que tenho para contar.
Pois bem, passei uma grande parte dessa minha existência seguindo o fluxo da vida, vivendo no piloto automático: do ensino médio para a faculdade, da faculdade para o mestrado, depois o tão almejado concurso público. Pode-se dizer que eu tinha chegado no auge do que muitos consideram com ser bem-sucedida: curso superior, um emprego estável, com um bom salário que paga não só todas as minhas contas, mas como também me possibilita coisas supérfluas e ainda sobra um pouquinho para investir no futuro.
O que mais eu poderia querer, não é? Por isso, para falar da minha escolha e processo de transição de carreira preciso falar da minha busca espiritual, das minhas dores e inquietações, da minha jornada pelo autoconhecimento.
Eu já vivi num turbilhão de emoções, de muita instabilidade, sem sequer compreender as razões disso. A ansiedade muitas vezes me dominava. A insatisfação com meu corpo doía profundamente. Minha relação com a comida era, por vezes, doentia. E aqui fui bem suscinta, porque não são destas questões, propriamente, o foco aqui. Apenas quero demonstrar os motivos que me levaram, ou melhor, fizerem me reaproximar de mim mesma, fizeram me redescobrir. {E percebam, por incrível que pareça, não havia nesse momento nenhuma insatisfação profissional}.
Quando comecei a questionar tudo isso que se passava comigo, decidi encontrar respostas, me abrir ao Universo. Assim descobri um caminho que em outros momentos já me tinha sido oportunizado, mas que eu não tive a sensibilidade em perceber e me permitir experienciar. Sabe aquela história de que o Universo sempre está nos enviando sinais, mas a gente é que não está aberto a recebê-los!? Exatamente isso que aconteceu comigo! E esta é uma primeira mensagem que quero deixar. Precisamos estar abertos para receber e perceber as mensagens e sinais do Universo. De coração aberto!
Nesse percurso encontrei a terapia, o yoga, a ayurveda, a astrologia, o desenho humano, a bruxaria – filosofias, ciências, linguagens, ferramentas que me levaram a me conhecer melhor e a entender a vida e o Universo para além do que os olhos conseguem ver. Todo esse arcabouço tem sido de fundamental importância na minha trajetória. {E aqui é preciso fazer um adendo importante, sendo a trajetória de cada um de nós singular, você poderá ter outro arcabouço, aquele que reverbere e faça sentido para você}.
Encontrei também, não por acaso, pessoas que me guiaram em diversos momentos e várias outras que compartilham da mesma jornada e me deram as mãos tornando a caminhada possível e mais leve, mesmo quando as inseguranças e incertezas assombram {assim, no presente mesmo, porque o processo é um eterno devir}.
Assim, nesses últimos dois anos eu me redescobri, me reconectei com coisas que fazem meu coração vibrar, voltei a entrar em contato com minha essência, com meu propósito. Algumas dessas coisas no fundo eu até sentia e sabia, mas muita coisa também estava encoberta pela sombra daquilo que estava tentando ser por terem me feito acreditar que era o que deveria ser {e aqui não estou falando de uma pessoa específica, falo da sociedade e seus “padrões” que são introjetados em nós}.
Foi uma revolução dentro de mim! E foi isso que fez com que a chama da mudança de carreira acendesse em meu coração. Me lembro bem nitidamente do momento: numa manhã fria e nublada, após minha meditação matinal, no final de maio do ano passado, no auge da pandemia que escrevi em um caderninho sobre a vontade de mudar de carreira.
Mas isso só aconteceu quando comecei a acessar o meu eu interior, desfazer das camadas e personagens que criei e introjetei em mim mesma, exercitar a presença, estar dentro do meu corpo com profundidade. Foi o que me fez perceber e reconhecer as respostas para o que me angustiava. Foi o que trouxe à tona a sensação de que o trabalho que eu escolhi e tanto gostava não mais me preenchia. Foi só pelo autoconhecimento que me saltou para a consciência algo que sequer imaginava que sentia. Respostas que eu já sabia, mas não sabia como acessar. De pedagoga à gastrônoma, ou para ser mais simples, cozinheira. Foi assim que a ideia de trabalhar com culinária me ressurgiu {porque ela sempre esteve em mim, sem que eu me desse conta}. Foi como uma sementinha que brotou após um longo estado de dormência.
Mas e o que fazer com isso? Porque não é fácil seguir a jornada do nosso coração.
São inúmeras as forças que nos querem impedir, paralisar, desencorajar. Muitas vezes são pessoas, situações ou nossos próprios medos que fazem esse papel de castrar nossos sonhos e maneira única de ser. Com a vontade da mudança vieram junto os fantasmas do medo e da insegurança, o receio do julgamento dos outros. E se não der certo? Essa pergunta pairou {e ainda paira de vez em quando, humana que sou} em minha cabeça. Todas essas maquinações do meu ego poderiam encontrar em mim um certo conformismo. Poderia me agarrar a segurança e a zona de conforto do que já me era conhecido: a estabilidade do serviço público, a familiaridade com o que faço, os anos de estudos dedicados a área da educação. Saber os motivos de querer mudar, o propósito dessa mudança, o legado que quero deixar no mundo, foi o que me fez seguir adiante.
Sobre o medo, vale a pena te contar que outro dia ouvi que ele é como uma porta, uma entidade, como se fosse um guardião. Se a gente passa por ele, passamos a prova de que merecemos uma vida extraordinária. Aí é que entra a autoconsciência, o conhecimento e o planejamento. São formas de combater o medo. Porque sim, dá medo mudar. O medo ele quer nos sabotar. Mas, olha que incrível, nesse mesmo dia também ouvi, que o medo está indicando que algo novo e criativo está prestes a vir ao mundo através de mim {através de você}. Por isso, quero aproveitar esse ponto do texto para dizer a você que está lendo: não deixe o medo te vencer, atravesse a porta do medo, vença o ego.
Quero deixar aqui uma frase que me impactou profundamente há pouco tempo e que mantenho fixada na parede do escritório: “é decidindo que se aprende a decidir”. Quando me deparei com essa frase de Paulo Freire pela primeira vez, não consegui apenas passar por ela sem ter lágrimas nos olhos e sentir um arrebatar no coração. Essa frase diz sobre todos nós, porque não existem respostas prontas para as nossas perguntas. O erro vai existir. É errando que construímos, com autonomia, nosso projeto de vida. Não existem receitas prontas. É exercendo a capacidade de decidir que aprendemos a ser nós mesmos, num processo que nos revela a nossa pronúncia de ser, que é única para cada um de nós e que é inconstante e que pode mudar. A transição de carreira tem sido para mim um processo de descobertas, experimentações e tentativas, guiado por uma vontade enorme de servir ao mundo do jeito mais genuíno que tenho em mim.
Por isso, o planejamento do qual mencionei a pouco não é o que costumeiramente vemos na maioria das vezes. O planejamento que levo comigo considera a minha individualidade, o meu modo de funcionamento energético, a minha ciclicidade, sem ser engessado. Seguindo sem pressa, apreciando o processo. Honrando e respeitando a energia feminina em mim, o meu próprio ritmo. Cuidando de mim. Estando com as pessoas que amo. Com autorresponsabilidade, paciência, compromisso. Sem atropelos. Fazendo o meu melhor. Com leveza. Desfrutar do agora sem perder de vista o futuro. Essa frase é como um mantra para mim {e também está na parede do escritório}.
E para não deixar a história perdida em minhas divagações, na minha trilha da transição de carreira, me encontro hoje fazendo o curso de gastronomia {mas, não só isso, porque autoconhecimento, outros conhecimentos específicos, planejamento, inclusive financeiro, são elementos que andam juntos}. Falta um ano e meio para que eu possa concluir o curso. Tem sido umas das coisas mais empolgantes desses tempos estranhos que estamos vivendo e vem me despertando vários interesses, me apresentando diversas possibilidades. Por isso, não sei bem ainda como vai ser exatamente o meu desenrolar profissional. Vou sustentar o vazio, deixar fluir, arriscando, decidindo, errando, tentando mais uma vez. Ouvindo e me conectando com meu coração e com o Universo.
E se no meio do processo tudo mudar, quero estar de peito aberto para encarar os desafios que vierem, quero me sentir confortável em poder ter múltiplos interesses, quero ter a tranquilidade e a leveza para me reinventar quantas vezes for preciso, sabendo que os erros e as tentativas representam a coragem de seguir em frente e me dão repertório e experiência de vida. Reajustar a rota não é o mesmo que desistir. Reajustar também faz parte.
Essa tem sido minha a jornada. Buscar a si mesmo. Se desvencilhar de qualquer máscara. De qualquer coisa que não seja você. Para mim, essa é a única possibilidade para a plenitude e a realização de quem somos, transbordando isso para mundo. Exercer nosso dever que nasce de quem verdadeiramente somos, sem precisar se encaixar em nada, sem nenhuma imposição externa, sendo livres, expressando a nossa essência.
Assim, sendo o trabalho uma de nossas formas de expressão no mundo, penso que a nossa expressão na Terra não deve se limitar a superfície do ter. E se podemos ter vários propósitos, todos eles convergem à uma dimensão transcendental, que não é palpável, tão pouco pode ser descrita. Só é possível sentir, o que me faz lembrar de uma música da banda que mais amo, Pink Floyd, Louder than words:
It's louder than words
This thing that we do
Louder than words
The way it unfurls
It's louder than words
The sum of our parts
The beat of our hearts
Is louder than words
Louder than words
É mais alto que palavras
Essa coisa que fazemos
Mais alto que palavras
A maneira que isso se desenrola
É mais alto que palavras
A soma de nossas partes
A batida de nossos corações
É mais alto que palavras
Mais alto que palavras
A letra da música se refere ao que essas pessoas faziam na composição, nos bastidores, nos estúdios e no palco. Há algo de mágico nas músicas e no processo criativo por trás delas que transcendem o plano físico. Isso também pode estar no nosso trabalho, independente de qual seja.
E o que eu quero verdadeiramente é estar vivendo plenamente minha autenticidade e potencialidades em todos os âmbitos. Poder dar minha contribuição e lutar pelas transformações que um dia quero ver no mundo, honrando meus dons e habilidades, minha autenticidade e interesses genuínos. De coração chegando a outros corações. É isso que também desejo a você! Ouça a sua ALMA, faça o que realmente deseja e faz as suas células vibrarem.
...
A história da Bruna é belíssima e nos vi em muitos momentos dessa fala, os nossos negócios e a nossa vida pessoal já entraram e sairam de tantos ninhos, desabrocharam e murcharam tantas vezes, e o que aprendemos com isso? A reinventar os processos ou a se reiventar nos processos e, principalmente, que autoconhecimento é um alicerce sólido, duradouro e que sim, sofre com as nossas inconstâncias e também com as do devir.
Gratidão Bruna por compartilhar conosco esse texto que é quase uma poesia, tanta mudança e tantas coisas por vir pra uma jovem tão promisssora como você, desejamos sorte e paz nos seus processos de vida. Estamos juntas na missão de vida denominada - Travessia.
Comentários
Carmem Holanda
05/08/2021 22:06
Crisjoias
19/08/2021 19:28
Vanessa Pontes
"Reajustar a rota não é o mesmo que desistir. Reajustar também faz parte".
Parabéns Bruna!
17/08/2021 22:48
Crisjoias
06/09/2021 18:23
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