Mulher, o que te falta para empreender?

Mulher, o que te falta para empreender?


A Organização das Nações Unidas-ONU estabeleceu o dia 19 de novembro como o Dia Mundial do Empreendedorismo Feminino. Uma iniciativa da ONU Mulheres que tem como finalidade promover possibilidades que fortaleçam a evolução feminina nos diversos espaços e temas, além de motivar a diminuição da desigualdade de gênero.

 

A ONU Mulheres atua em seis áreas: “Empoderamento econômico, fim da violência contra mulheres e meninas, governança e planejamento, normas globais e regionais, paz e segurança emergências Humanitárias, liderança e participação política das mulheres”. E tantas outras instituições e associações de apoio a esse gênero têm sido constituídas em prol da independência feminina não só no mercado de trabalho, mas de um modo em geral.

 

Muito esforço tem sido empenhado nos últimos 130 anos para que as mulheres possam ser respeitadas não só pelos seus direitos como seres humanos, mas também com relação ao poder que possuem como mulheres. O poder de serem mães, gestoras, filhas, empresárias, apoiadoras, motivadoras, desbravadoras, líderes. Há muito vejo e ouço discussões de gêneros que utilizam do termo PODER de maneira leviana e mal intencionada. Criando rixas entre homens e mulheres, o que dificulta o caminhar das ações que visam a equidade entre os sexos.

 

Por coincidência, em 19 de novembro de 2020, no Dia Mundial do Empreendedorismo feminino, participei de discussões em que esse tema foi levantado com extremo equilíbrio e clareza diante da repercussão que possa vir a gerar se não houver bom senso e razoabilidade diante dos argumentos. Foi então, que me encantei com uma frase da Luiza Trajano – Magazine Luiza, em que ela diz assim “não menosprezo a força dos homens, só quero que eles respeitem o nosso poder e nos apoiem”. Frase que não representa a invenção da lâmpada - muitos pensarão, mas que nos inspira a refletir o quão positivos podem ser os resultados de uma parceria de acolhimento que preserve a equidade entre homens e mulheres.

 

É sonhar muito? Não ter que se explicar para um homem quando você o chama atenção para determinado ato machista? Simplesmente, pela consciência que tem de que só assim a mudança pode ser real e abrangente? Porque sempre devemos justificar e ficar tão na defensiva diante das más interpretações que esse empoderamento feminino possa gerar até mesmo com nossos pares?

 

O que nos falta enquanto humanidade para entender que como seres de uma mesma espécie que somos necessitamos de respeito mútuo? Tudo o que falei até aqui poderia servir para embasar o título desse texto: Mulher, o que falta para empreender?

 

Já que sabemos que “90% das mulheres que empreendem fazem isso junto com atividades domésticas, sendo que apenas 40% dos homens” o fazem dessa maneira. Já que percebemos de relance, pois não é preciso aprofundar, que ainda existe um abismo entre os gêneros e que sim, tenha certeza que chegaremos ao equilíbrio porque desbravadoras não se cansam de lutar, não se deixam desanimar, falam mais e mais ao invés de se calarem.

 

E sobre o empreendedorismo de mulheres negras? Você sabia que os pequenos negócios de donos brancos têm o dobro de formalização do que os de donos negros? 

 

"Temos mais de 400 anos de período escravocrata no Brasil e esse ano (2020) completamos 132 anos da abolição. Esse ponto de partida da população negra define o que temos hoje. Se tem algo que fez com que a população negra sobrevivesse ao colonialismo e ao racismo estruturado e muitas vezes institucionalizado foi o ato de empreender". É o que diz Adriana Barbosa, fundadora da Feira Preta e da plataforma PretaHub em entrevista ao site Pequenas Empresas Grandes Negócios em 4 de fevereiro de 2020.

 

Mas esse tema carece e merece muito mais espaço nesse blog. Logo teremos artigo colaborativo sobre. 

 

Muito do que falta para as mulheres empreenderem é sua própria permissão de se colocarem no lugar de liderança. Isso foi um desafio que tive que enfrentar.

 

Estar em posição de liderança aumenta o potencial de mudar realidades. E somos jovens ainda quando pensamos em como temos desempenhado os nossos papéis e quais são estes numa humanidade que soma cerca de 350 mil anos.

 

Venho falando muito sobre casularmo-nos. Ou seja, estarmos envoltas nos nossos propósitos mais íntimos para que possamos descobrir dentro de nós as fagulhas das quais precisamos para incendiar os nossos planos. Não para que se tornem cinzas, mas para que gerem calor, derretam o gelo da sociedade patriarcal e deixe cada menina desse planeta se sentir mais quentinha e protegida, a fim de que elas possam sair dos seus respectivos casulos se sentindo seguras e capazes.

 

Em artigo de Mariana Varzea intitulado “O feminismo no Brasil” publicado no site bolsademulher.com, “pesquisadores reconhecem que somente no século XIX o Brasil percebeu que a população feminina merecia ser educada”. Sendo que “(...) a primeira legislação relativa à educação feminina surgiu em 1827 e permitia apenas a criação de escolas elementares, somente de meninas. As regras em torno da ideologia patriarcal definem-se, neste sentido, como um sistema de dominação sexual que não permite à mulher o desenvolvimento de determinadas funções sociais.”

 

Desde então, nós mulheres seguimos galgando aos poucos possibilidades de vida, inclusive de acolhimento do nosso próprio machismo e da consciência sobre diversos assuntos que perpassam crenças seculares a normalizadores de costumes. A maioria baseados em mitos relacionados à beleza e estética que constituíram uma ideologia política que até hoje influencia de maneira negativa a nossa imagem dentro da sociedade. Porque são na verdade formas de controlar as mulheres e o poder que possuímos.

 

O imaginário da sociedade que tece uma mulher perfeita em todos os aspectos não é alimentado apenas pelos homens, nós mulheres ainda motivamos esse fenômeno quando vencidas ou acuadas pela opressão social. O intuito aqui não é gerar um discurso femista (que deseja excluir o outro/homem) que é diferente de feminista (que deseja equidade com o outro/homem), se não o de nos atentarmos aos mais diversos tipos de reflexões em torno do tema mulher, bem como empreendedorismo feminino que possui como obstáculo o nosso poder de decisão de cobrarmos da sociedade que nos reconheça como cidadãs. Sim, devemos e precisamos nos posicionar e é claro que isso tem um preço.

 

O feminismo tem várias vertentes, entre elas a radical, que nos anos 60, conseguiu provocar “intensa agitação política, a exposição das contradições de um sistema que tem sua legitimação na universalidade de seus princípios, mas que na realidade é sexista, racista, classista e imperialista. O caráter contracultural do movimento feminista radical buscava despertar a consciência latente que todas as mulheres têm sobre a opressão”. Um processo que desencadeou a partir do ativismo dos grupos radicais em diversas manifestações e marchas.

 

Cerca de 42% das mulheres acima de 16 anos ainda estão fora do mercado formal, enquanto apenas 6% dos homens estão. Entretanto, a presença delas em lutas sociais tem aumentado cada vez mais. De acordo matéria publicada no site brasildefato.com.br “na Venezuela mais de 60% das lideranças dos conselhos comunais são exercidas por mulheres. Na África do Sul elas protagonizaram a luta por acesso a medicamentos, que teve início na década de 1990. Mais recentemente, na Índia, as mulheres estão a frente da luta contra as mudanças na lei de cidadania, que discrimina a população muçulmana”.

 

Esses temas se tornam cada vez mais conhecidos e discutidos. A mulher ainda tem um caminho árduo e longo, mas outras gerações de mulheres estão nascendo de mulheres que têm se recuperado, se curado, exigido e conseguido reconhecimento. Outras gerações de homens estão nascendo dessas mulheres que os criam de maneira coerente às novas realidades sociais. Muitas culturas pelo mundo afora ainda permanecem blindadas diante dessas discussões, mas penso que não haverá retroação. Apenas, seguiremos avante e o que nos falta hoje para empreender cada vez mais, será algo extremamente natural daqui algumas décadas. Teremos a segurança e, principalmente, apoio de homens, parceiros e admiradores que apoiam as mulheres, que sabem que elas devem receber os mesmos salários que eles, que devem ter cargos equiparados, que fazer seu trabalho em casa e sua parte com os filhos não passa de uma mera obrigação pré-acordada e estabelecida com base no amor.

 

Quando eu era adolescente, falava que se tivesse outra reencarnação queria ser menino, hoje eu não penso mais assim. Tenho aceitado minha feminilidade, fortalecido o empreendedorismo feminino, sendo esteio para outras mulheres. Não só amo ser mulher como tenho extrema admiração pela nossa capacidade. Tem sido um dia de cada vez diante das demandas de se refletir a maneira como o mundo nos recebe e nos trata. Ainda luto contra meus machismos, ainda me entrego a determinados padrões, sendo que algumas vezes questiono e outras não. Entretanto, sou feliz porque tenho buscado consciência diante dessas coisas. E isso tem me ajudado a ajudar outras. Que sejamos mulheres que levantam outras mulheres. Que possamos nos apoiar na prática com conselhos, ombro amigo, compartilhamento de ideias, que sejamos criativas quanto as maneiras como podemos nos manter unidas. Sejamos cada vez mais corajosas! Eu não teria respostas para esse questionamento porque depende de cada uma de nós, do contexto de vida e de tudo aquilo que carregamos, inclusive do peso que cada sentimento tem. Faz-se necessário, casularmo-nos e obtermos as nossas próprias respostas. Conte comigo! Então mulher, o que te falta para empreender?

 

@arianegaldino_reinventa

 

Referencial Bibliográfico

https://revistapegn.globo.com/amp/Mulheres-empreendedoras

https://www.brasildefato.com.br/2020/03/06/a-mudanca-que-vem-das-mulheres-lideranca-feminina-protagoniza-luta-social

http://www.bocc.ubi.pt/pag/woitowicz-karina-artigodiadamulher.html

 

 

 

 

 

Ariane Galdino, jornalista, escritora, empreendedora e curadora do blog. - 20/11/2020

Comentários


Telma Borges

Creio que já nascemos empreendendo, já que temos que inventar formas de sobreviver na selva patriarcal. Sugiro a leitura de Djamila Ribeiro sobre o feminismo negro: Quem tem medo de feminismo negro?

20/11/2020 14:56

Marilandes Reis Santos

Mto rico esse texto!

20/11/2020 15:21

Marilandes Reis Santos

Mto rico esse texto!

20/11/2020 15:42

Crisjoias

Obrigada Marilandes. Que bom que gostou!

20/11/2020 17:35

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